“Porque ela tinha o mundo nas
mãos, mas o mundo dela. Lá fora nada fazia sentido. E mesmo que ela
explicasse entrelinhas o que queria fazer ou dizer, ninguém entenderia. Ela tinha o coração apertado, enforcado. Ela
maltratou-o. Tentou amenizar, tentou dizer que não doía. Não
conseguiu enganar-se. Enganou só os demais. Só que por dentro era tudo
quebrado, era tudo em falta. Faltava-se até o desespero, faltava palavras. Porque de silêncio ela inchava-se. Acabava-se. E deitava na
cama no fim da tarde com todo o peito livre de qualquer acusação. Só por um
dia. No outro chorava. Se auto-derramava pedras
sobre o caminho. Ela mesma era um obstáculo. No próprio
caminho, no caminho dos outros. E havia muito medo no meio do escuro do seu
próprio pensamento, mas só ela sabia. Só ela sentia, porque se
falasse, doía.” (d♥s)
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